"Consideremos, então, a soma total do nosso conhecimento acumulado como formando uma ilha, que designo por <<Ilha do Conhecimento>>. Por <<conhecimento>> entendo sobretudo o conhecimento científico e tecnológico, embora a Ilha também pudesse incluir todas as criações culturais e artísticas da Humanidade. Essa ilha está rodeada por um vasto oceano, o oceano inexplorado do desconhecido, que oculta inúmeros mistérios fascinantes. Mais adiante veremos se esse oceano se prolonga até ao infinito. Para já, basta imaginarmos que a Ilha do Conhecimento cresce, à medida que vamos descobrindo mais sobre o mundo e sobre nós próprios. Este crescimento segue, com frequência, um caminho muito incerto; a linha da costa delineia a fronteira irregular entre o conhecido e o desconhecido. Na verdade, esse crescimento pode, por vezes, retroceder quando as ideias antes aceites são abandonadas à luz de novas descobertas.
O crescimento da Ilha tem uma consequência surpreendente mas essencial. Ingenuamente, esperaríamos que, quanto mais conhecêssemos o mundo, mais perto nos encontraríamos de uma espécie de destino final, a que alguns chamam uma Teoria de Tudo e outros <<natureza última da realidade>>. No entanto, retomando a nossa metáfora, vemos que, à medida que a Ilha do Conhecimento cresce, o mesmo se passa com as margens da nossa ignorância, a fronteira entre o conhecido e o desconhecido: saber mais acerca do mundo não se aproxima minimamente de um destino final - cuja existência não passa de qualquer modo, de uma suposição esperançosa - levando-nos antes a mais perguntas e mistérios. Quanto mais sabemos, mais expostos ficamos à nossa ignorância e mais perguntas sabemos fazer."
Marcelo Gleiser em "A Ilha do Conhecimento"